Religião de Salvação, de Libertação e de Resultados

Pelo exemplo de Jesus e do seu ensino e dos apóstolos, percebemos que o Cristianismo é uma religião de salvação, de libertação e de resultados. O problema recorrente na História, e muito evidente hoje, é que na escandalosa fragmentação denominacional por que desgraçadamente passa a sua Igreja hoje, esse conteúdo está esquartejado, parcializado e “especializado”, com cada grupo se apegando apenas a uma dimensão, deixando as outras de lado. Em todos os casos distorcendo a integralidade da missão e tornando carentes os fiéis. Não seria o momento de recuperarmos a totalidade?

As Igrejas históricas são muito boas como religião de salvação, pela pregação do evangelho, chamando os pecadores ao arrependimento e à fé na graça manifestada na encarnação, na cruz e no túmulo vazio, conduzindo ao batismo, ao ensino e à adoração. E, em geral, param por aí.

O pensamento liberal, onde se inclui a Teologia da Libertação, tem apontado para os pecados estruturais, institucionais, sociais, culturais e econômicos, chamando a atenção para a necessidade de uma libertação dessas opressões, seja pela independência de países colonizados, pela distribuição de renda, propriedade, poder e saber, seja pela afirmação dos direitos humanos de setores oprimidos ou discriminados. E, em geral, param por aí.

Igrejas pentecostais, carismáticas ou renovadas, introduzem e recobram a realidade da opressão demoníaca, da realidade concreta das potestades do mal, da necessidade de uma libertação espiritual. E, em geral, param por aí.

Igrejas neo(pseudo)pentecostais levam em conta o fato de que as pessoas estão desempregadas, com a vida familiar em farrapos, passando fome e que precisam de resultados palpáveis que superem sua “sub-vida”, em uma fé que conduza a vitórias.

Igrejas históricas têm-se mantido à margem das lutas sociais, sequer, muitas vezes, tendo um programa de cunho assistencialista ou algum projeto social de promoção humana. Dizem que satanás existe, mas esse fica preso aos manuais de teologia e parecem meio “licenciados” da vida cotidiana, e não integram, também, ao seu ministério a preocupação com as carências terríveis da vida, e a necessidade de demonstração do poder de Deus.

A esquerda teológica quer fazer bons omeletes com ovos podres, pois quer transformar as estruturas sem transformar as pessoas, não acreditam que satanás esteja no pedaço e não trabalham as micro-relações, pois, enquanto as grandes transformações não chegam, a cachaça, a jogatina, a violência doméstica, as drogas e o desemprego vão mantendo milhares de fiéis em uma vida sub-humana.

Já os neo(pseudo)pentecostais também não pregam o novo nascimento; são cegos para os pecados estruturais e se concentram nos resultados pessoais ou familiares, agora já incorporando os “encostos” da macumba, promovendo uma troca financeira entre o céu e a terra, se esquecendo que a “prosperidade” na Bíblia quase sempre se refere a coletividades e não a indivíduos.

Será que temos que continuar assim, parcializados e deficientes?

Como integrante de um ramo das igrejas históricas – o Anglicanismo – creio que em nosso ministério e em nossa liturgia não podemos arredar o pé da pregação da mensagem de salvação, de santificação e de discipulado, mas, por ações sociais emergenciais, projetos sociais promocionais e participação em campanhas de cidadania, promovemos o mandato cultural no combate libertador dos opressivos pecados sociais. Nada nos impede de ensinar sobre os anjos bons e os anjos caídos, e orar pela libertação também espiritual das pessoas tentadas, induzidas ou possessas por satanás. E, por que não temos cultos especiais de escuta dos problemas pessoais e familiares dos carentes, orando para que o Senhor os assista no caminho do trabalho, da alimentação, na cura das enfermidades físicas, emocionais e espirituais, na libertação do alcoolismo e das drogas pesadas, bem como dos desvios no campo da afetividade/sexualidade (prostituição, fornicação, homossexualismo, etc.)? Estou falando essas coisas não por pragmatismo, mas por obediência ao todo do conteúdo bíblico.

Pastores, muitas vezes com razão, reclamam que as pessoas não querem dar ouvido à mensagem do arrependimento e ficam correndo pelas igrejas promotoras de espetáculos e distribuidoras de “bênção” e de resultados. Não seria a hora de uma revisão integradora, com discernimento e critérios, em que a salvação, a libertação e os resultados se tornassem parte cotidiana dos seus(nossos) ministérios?

Afinal de contas, Jesus Cristo ia por todas as partes anunciando o Evangelho do Reino, libertando os oprimidos do poder das trevas, curando toda a sorte de enfermidades e anunciando o Dia do Senhor, o grande jubileu de justiça e de paz para a vida social. Não deveria esse também ser o nosso programa?

Que o Senhor nos oriente no caminho da obediência e no serviço ao seu povo na totalidade das dimensões do Evangelho, realmente Boas Novas!

Dom Robinson Cavalcanti
Bispo Diocesano

Comentários

  1. Maravilhosa Graça!
    Gostei do artigo, quanto a termos um Evangelho Integral, contudo, pergunto:"SERIA TODOS ESTES GRUPOS IGREJA DE DEUS?".
    Na décaDa de setenta, ao realizarmos cultos campais, o dirigente sempre terminava com uma frase clássica: "Procure uma igreja evangélica mais próxima de sua casa".
    Hoje tem muita gente com cara de evangélico, nome de evangélico, mesma bíblia, mesma oração, mesmos hinos, mesmos cacoetes, mas NÃO O SÃO.
    Se com os verdadeiros evanglélicos até hoje isto não foi possível, imagine com os aparentemente evangélicos?
    Um forte abraço

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